Uma gravidez em cada fase da vida
Engravidar aos 20 ou aos 40 anos é muito diferente para a mulher? O assunto é repleto de mitos e o mais importante a dizer, antes de tudo, é que, ao falar sobre gravidez, não existe regra pronta, nem receita de bolo. Cada gestação é única!
Ou seja, tanto as mudanças físicas e, principalmente, as emocionais, podem variar de acordo com o que a futura mamãe está vivendo no momento da gestação. Mesmo assim, é possível enumerar algumas características comuns de cada faixa etária, como você vê a seguir.
Aos 20 anos
Vamos partir do seguinte princípio: quanto menor a idade, maior é a imaturidade emocional. Porém, a disponibilidade física é maior. Na faixa dos 20 anos, a mulher está cheia de energia para gerar e cuidar de um bebê – mas pode não estar pronta emocionalmente para enfrentar as mudanças deste momento.
“Hoje, uma mulher de 20 anos é uma adulta bastante jovem, diferente da época dos nossos avós. Atualmente, espera-se que uma mulher jovem – antes de ter filhos - se coloque no mercado de trabalho, faça opções profissionais e amorosas bem acertadas e possa fazer experimentações diversas”, comenta Ana Merzel Kernkarut, psicóloga e coordenadora do serviço de psicologia do Hospital Albert Einstein.
Mas como não existe regra, apesar de teoricamente uma mulher de 20 e poucos anos possuir menos instabilidade psíquica, isso não a impede de viver uma gravidez tranquila e saudável, tanto física quanto emocionalmente.
A Kátia Siqueira tem 44 anos e 5 filhos. O primeiro nasceu quando ela tinha apenas 17 anos. A última gestação foi vivida aos 38. Cada uma delas foi experimentada sob óticas diferentes
Na primeira, teve pré-eclâmpsia, mas não sentia desconforto -, apenas muito sono. “O medo mesmo era de enfrentar a minha mãe porque tudo aconteceu de maneira inesperada”, diz.
A segunda foi bem saudável, mas, como já sabia o peso da responsabilidade de ter uma criança, sentiu mais medo do futuro. “Da terceira vez, engravidei de gêmeas e já sabia que tinha esclerose múltipla”, lembra. A doença não impede a gravidez. Ao contrário, segundo Kátia, pode até ser benéfica. “Me senti um pouco mais cansada, mas estava bem assistida e muito feliz”, garante.
A última, aos 38 anos, foi um susto. “Meu marido iria fazer uma vasectomia, nossa situação financeira não estava das melhores e eu fiquei muito preocupada. Mas deu tudo certo”, afirma.
Durante a gestação, Kátia se sentiu bem mais cansada do que a primeira vez, aos 17 e tive diabetes gestacional. “Novamente deu tudo certo e hoje a Letícia está com 5 anos”, conta.
Aos 30 anos
De ponto de vista físico, até os 35 anos, o corpo da mulher está no auge biológico para engravidar. “Tudo ainda está jovem: óvulos, útero, artérias... Portanto, engravidar aos 18 ou aos 35 anos, do ponto de vista médico, não faz muita diferença”, afirma Lucila Evangelista, obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein.
Tanto que hoje é bem comum que as mulheres engravidem na faixa dos 30 anos. De acordo com a especialista, a média de idade do primeiro filho das gestantes do Hospital Albert Einstein é 34 anos. Nessa faixa etária, muitas delas já fizeram suas escolhas na área profissional e afetiva e se preparam para serem mães com mais cuidado.
“Nesse período, há uma aquietação do ponto de vista psicológico, o que proporciona uma maternidade mais madura que na faixa dos 20”, afirma Ana. Além disso, a disponibilidade física ainda está lá, firme e forte.
Só que, depois dos 35 anos, começam as mudanças no corpo feminino. A primeira delas está ligada à fertilidade. Ocorrem o envelhecimento do óvulo, a dificuldade de fertilização, maiores chances de aborto espontâneo e alterações cromossômicas no desenvolvimento do embrião, principalmente no que diz respeito ao aparecimento da Síndrome de Down.
Aos 40 anos
Do ponto de vista físico, a maior preocupação dos médicos nessa faixa etária é com o desenvolvimento do bebê. Tudo por conta da probabilidade de alterações cromossômicas, que aumenta progressivamente ao longo dos anos.
Informações do Serviço de Obstetrícia do Hospital Israelita Albert Einstein relatam que, ao engravidar aos 35 anos, 1 em cada 300 bebês tem chance de desenvolver Síndrome de Down. Quando a mãe engravida aos 45 anos, essa proporção aumenta de 1 para cada 45 bebês.
Outra coisa: a partir dos 40 anos, algumas doenças da idade podem aparecer, como a hipertensão, diabetes, obesidade, mioma e endometriose.
“É claro que hoje em dia as mulheres de 40 se cuidam muito mais. Fazem exercícios físicos, se alimentam adequadamente, fazem uso da medicina preventiva... Uma mulher de 40 está em ótima forma para engravidar, mas é preciso ficar atenta”, comenta a médica Luisa.
Por outro lado, esse é um momento de extrema maturidade psíquica. Em geral, as mulheres estão com muitos aspectos da vida consolidados, o que pode proporcionar uma gestação mais tranquila e bem resolvida.
Foi assim que se sentiu a funcionária pública Natalia Lima, que viveu sua segunda gravidez aos 40 anos e é mãe do Lucas, de 6 anos, e da Yasmin, de 2 meses.
“Eu esperava viver uma gestação ruim por causa da idade avançada, mas essa gravidez foi melhor que a primeira. Me cuidei mais, acabei engordando menos, me senti melhor, estava mais tranquila... Na primeira gestação, eu só chorava, me sentia insegura. Dessa vez, ficou tudo bem”, comenta ela.
A decisão sobre assuntos práticos também ficaram mais leves. “Para o primeiro filho, arrumei o quarto com antecedência e comprei um monte de coisas desnecessárias. A segunda chegou sem quarto, no meio de uma mudança. Improvisei tudo”, conta Natalia.
Aos 50 anos
Mesmo com os avanços da medicina, não se podem ignorar os possíveis riscos físicos de uma gravidez na faixa dos 50 anos, bem parecidos com aqueles citados para mães com mais de 40 anos. Porém, essa gestação é completamente possível e pode ser muito saudável.
Nessa idade, a mulher já tem maturidade o suficiente para tomar decisões bem acertadas e ponderadas com relação à vida e ao corpo. “Se este for o primeiro bebê, pode ser a realização de um sonho. Já engravidar depois que os filhos estão grandes é a oportunidade de reviver uma etapa da vida que, para muitas, tem um significado positivo”, avalia a psicóloga.
Ela garante que, independente da idade ou das condições da gravidez, uma mãe bem assessorada do ponto de vista médico e psíquico pode viver bem o momento e o desejo.
(Fotos: Getty Images)